Por André Peragine
Peço licença. Hoje não vou conseguir escrever o que havia planejado.
Ontem fui dormir idealizando o que eu ia escrever hoje. Claro, ia falar a respeito da decisão do título da Fórmula 1, assim como falei da NASCAR na semana passada. Acordei de manhã em meio a uma forte chuva, não tinha luz e saí de casa correndo, não queria chegar atrasado. De fato, acabei chegando adiantado e praticamente seco. Chegando no trabalho, me deparei com o carinha do ar condicionado. Me cumprimentou sorrindo como sempre, mas não tão bem humorado. Me perguntou: “Viu o avião da Chapecoense?”. Achei que se tratava de alguma piada pelo título do Palmeiras no domingo. “Não, o que houve?” respondi. “Caiu de madrugada!”. Meio sem entender, perguntei se era sério e se tinha morrido alguém. “Não sei, fiquei sabendo agora, parece que resgataram gente com vida”. Então, abri o Google Chrome. Infelizmente.
A partir desse momento, o que eu ia escrever já não tinha mais importância. Aliás, o dia começou a passar mecanicamente, de notícia em notícia (que aliás, ficavam mais tristes a cada minuto). Confesso que não acompanho futebol, e hoje fiquei conhecendo a bela história deste grande pequeno time. Era composto por gente guerreira e apaixonada. Jovens como eu, cheio de objetivos e sonhos, que postavam seus bons momentos nas redes sociais, que conquistaram o coração dos torcedores de diversos times.
E ontem voaram para seu sonho mais alto, a decisão mais importante. A alegria no rosto dos rapazes, acompanhados por jornalistas contagiados pela sua alegria. Mas assim como meu dia e meu post tomaram outro rumo, seus sonhos se perderam em um voo sem volta. Nosso dia acabou se tornando um dia de reflexões, lembramos de tudo aquilo de que esquecemos todos os dias. Nos lembramos de nos comover, percebemos nossa vulnerabilidade, de que os sonhos podem ser interrompidos sem breve aviso.
Nós não gostamos do momento em que nos damos conta de que não somos grande coisa. Talvez por isso fiquemos buscando grandes coisas, deixando as pequenas e realmente importantes de lado. Nos perdemos em telas de LCD, de smartphones e tablets sem nos darmos conta de que o dia está ensolarado, do quanto a comida está saborosa, do quão prazeroso pode ser chegar em casa e fazermos um bom café.
Os garotos da Chapecoense nos mostraram o quão valoroso é lutar por um sonho sem um salário milionário. Simplesmente pelo prazer de ver o sorriso nos rostos dos torcedores, subiram prometendo ir em busca de um sonho. Sonho que foi interrompido sem aviso, risos que se transformaram em lágrimas. Aqueles garotos simples e sonhadores que em uma terça feira comoveram o mundo.
Não há palavras que possam tornar este momento mais fácil e menos doloroso. Hoje a torcida se transformou em uma só, todos compartilhamos de uma mesma dor, todos nos transformamos em apenas um esporte. Que os familiares daqueles que se foram (jogadores, corpo técnico, jornalistas) possam receber nosso apoio e nossos sentimentos, e que saibam que aqueles que se foram serão para nós eternos campeões. O que fica na memória é aquele último lance, aquele momento que nos mostra o que é a grandeza do esporte, e mais do que isso, a grandeza daqueles garotos.
#SomostodosChape